Ucranianos e Russos com raízes judaicas fogem para Israel

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro, Israel se preparou para uma nova onda de imigração do antigo estado soviético. Desde então, cerca de 13 mil ucranianos com herança judaica fizeram o “aliá” ou emigraram.

O termo que significa “ascensão” ou “subida” tem sido usado para definir o retorno dos judeus a Israel e tem uma conotação espiritual, fazendo referência a uma profecia encontrada em Jeremias 31: “Vejam, eu os trarei da terra do norte e os reunirei dos confins da terra [31.8]”.

De acordo com o The Guardian, cerca de 26 mil russos [1 em cada 8] também deixaram a Rússia para retornar a Israel.

Desde o anúncio da mobilização de Vladimir Putin, em setembro, esses números estão crescendo. Na semana passada, Alla Pugacheva, a rainha do pop soviético, reiterou suas críticas à guerra e anunciou que foi para Israel com o marido, que tem raízes judaicas.

Lei do retorno de Israel

A Lei do Retorno de Israel — muito desprezada pelos palestinos, aos quais ela não se aplica — dá aos nascidos judeus, convertidos, cônjuges de judeus ou pessoas com pais ou avós judeus, o direito de se mudar para o país e adquirir a cidadania israelense.

Desde 1950, Israel viu várias ondas de imigração de aliá de países como Sudão, Etiópia e Iêmen, bem como um influxo de mais de 1 milhão de pessoas após o colapso da União Soviética, em 1989.

Para o membro do Knesset ucraniano, Yuli Edelstein, que foi rejeitado e passou três anos em uma colônia penal da Sibéria, há uma sensação de que a história está se repetindo.

“O perigo faz parte da experiência judaica na Rússia há gerações. Ninguém nunca vai esquecer isso. Quando deixei a Rússia, eu era muito jovem e sabia muito pouco sobre minhas raízes judaicas e Israel. Mas eu tinha um destino. Desta vez, as pessoas estão saindo com pressa, impulsionadas pelo medo”, comentou.

Russos imigrando para Israel

O processo do aliá foi acelerado para os ucranianos, que são classificados como refugiados, mas a demanda inesperada da Rússia sobrecarregou a Agência Judaica — órgão governamental que facilita a imigração.

Além dos 26 mil russos que já chegaram a Israel, só neste ano, outros 35 mil aguardam o processamento da papelada.

Houve uma reunião entre o Ministério da Aliá e Integração de Israel, o Ministério das Relações Exteriores e o Tesouro, após a convocação militar de Putin, para discutir orçamentos de emergência, opções de hospedagem e organização de voos para os recém-chegados.

Neutralidade de Israel na guerra entre Rússia e Ucrânia

O trabalho da Agência Judaica está ameaçado. Em julho, o Ministério da Justiça da Rússia recomendou que a organização fosse fechada por violar as leis de privacidade russas, provocando uma briga diplomática.

Apesar da pressão de seus aliados ocidentais para adotar uma postura enérgica, Israel tentou permanecer neutro na guerra contra a Ucrânia, já que depende de Moscou para facilitar suas operações militares na Síria.

A ameaça de fechar os escritórios da Agência Judaica, no entanto, levou o primeiro-ministro interino de Israel, Yair Lapid, a alertar que tal medida seria um duro golpe para as relações bilaterais. O caso está lentamente tramitando em um tribunal de Moscou, e o futuro da agência é incerto.

Agência Judaica em risco

Não está claro o que os russos esperam alcançar ao atacar a Agência Judaica. O governo não é monolítico [não é único, nem independente]. Talvez um ramo esteja tentando retardar a emigração e outro esteja ciente das possíveis implicações diplomáticas”, disse uma fonte que preferiu não se identificar.

É difícil prever o que acontecerá a seguir, mas há dois resultados contraditórios: as pessoas terão medo de se apresentarem como candidatas ao aliá, agora que foi desaprovado pelo governo [e o número vai cair] ou os números vão aumentar ainda mais”, continuou.

A mobilização de Putin levou a uma disputa por voos para Israel, onde os cidadãos russos ainda são bem-vindos como turistas. Cinco novas agências privadas também foram abertas para ajudar os russos a fazer o aliá.

“Eu sabia que os dias sombrios da União Soviética poderiam voltar”

A Agência France-Presse informou que os escritórios da administração municipal em todo o país viram um grande aumento de pessoas procurando registros para apoiar suas reivindicações de herança judaica.

Muitas das pessoas que entram em contato com as autoridades para pedir ajuda são mães desesperadas para tirar seus filhos do país.

“Consegui um passaporte israelense há muitos anos porque eu sabia que os dias sombrios da União Soviética poderiam voltar”, disse Anna Klatis, professora de jornalismo da Universidade Estadual de Moscou, que partiu para Jerusalém com sua filha de 16 anos, em fevereiro.

“É difícil para minha filha se adaptar a um novo lugar e aprender hebraico na escola. Talvez ela tenha que fazer o serviço militar aqui. Mas eu não poderia deixá-la crescer em um lugar onde as liberdades estão desaparecendo”, concluiu.

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